[Veja - 09/04/2013 Na íntegra]
Todos os outonos, milhões de borboletas monarcas (Danaus plexippus) iniciam uma viagem de até 4.000 quilômetros em direção ao sul. Elas saem das regiões mais frias nos Estados Unidos e Canadá em direção a santuários localizados no planalto central mexicano. O mecanismo usado pelas borboletas para se guiar durante seus voos sempre intrigou os cientistas, principalmente porque elas só fazem a viagem uma vez na vida. De acordo com um novo estudo publicado nesta segunda-feira na revista PNAS, elas são capazes de se locomover sem possuir um senso interno de localização, mas se guiando por pontos de referência no solo.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: An experimental displacement and over 50 years of tag-recoveries show that monarch butterflies are not true navigators
Onde foi divulgada: periódico PNAS
Quem fez: Henrik Mouritsen, Rachael Derbyshire, Julia Stalleicken, Ole Ø. Mouritsen, Barrie J. Frost e D. Ryan Norris
Instituição: Universidade de Guelph, no Canadá
Dados de amostragem: 23 borboletas monarcas, que tiveram seus padrões de voo medidos em simuladores nas cidades de Guelph e Calgary, no Canadá, a mais de 2.500 quilômetros de distância uma da outra
Resultado: Os pesquisadores descobriram que, mesmo separadas por grandes distâncias, as borboletas tendem a voar na mesma direção, mostrando não possuir um senso inato de localização
Ao analisar as grandes distâncias percorridas pelas borboletas, os pesquisadores pensavam que que elas eram "verdadeiros navegadores", ou seja, possuíam um senso de orientação baseado em uma bússola e um mapa internos, como acontece com algumas aves migratórias. Assim, elas seriam capazes não só de saber para qual direção voar, mas também conseguiriam determinar sua localização atual em relação ao destino final. "Os cientistas sabem há algum tempo que as borboletas monarcas usam pistas externas, como o sol e os campos magnéticos, como uma espécie de bússola que ajuda a indicar sua latitude. Mas, para ter um mapa interno, elas também precisam ter conhecimento da longitude", disse Ryan Norris, biólogo da Universidade de Guelph, no Canadá.
Para descobrir se as borboletas podiam detectar naturalmente mudanças de longitude, os pesquisadores examinaram seu padrão de voo em simuladores localizados na cidade de Guelph, no leste do Canadá. Após o final dos testes, as mesmas borboletas foram transportadas até a cidade de Calgary, 2.500 quilômetros em direção ao oeste. "As monarcas que estudamos em Guelph voaram em direção ao sudoeste, voltadas para o México. Quando as testamos em Calgary, elas voaram na mesma direção, como se não soubessem que haviam sido deslocadas 2.500 quilômetros", disse Rachael Derbyshire, pesquisadora da Universidade de Guelph responsável pelo estudo.
Ao mostrar que as borboletas não eram capazes de saber que foram deslocadas, os pesquisadores provaram que elas possuíam o compasso natural, que guiava a direção para a qual elas deveriam ir, mas não o mapa. Para descobrir como elas, de fato, se localizavam, os pesquisadores tiveram de analisar dados coletados durante mais de 50 anos — de 1952 a 2004 — de estudos sobre a migração da borboleta.
Assim, descobriram que as monarcas não usam um mapa interno, mas baseiam seu voo em pontos de referência no solo, como as montanhas e o desenho do litoral. "Dada a dificuldade dessa jornada migratória e o fato de esses insetos pesarem menos de um grama, eles usam um sistema incrivelmente simples para viajar milhares de quilômetros em direção a uma região em que nunca estiveram", disse Norris.
Leia também:
Terminado o estudo, uma questão permanece. Apesar de saber como as borboletas se guiam durante seu voo, os pesquisadores ainda são incapazes de explicar como elas percebem que finalmente chegaram a seu destino no México. "Uma possibilidade que pensamos ser provável, mas ainda precisa ser testada, é que elas — como outros animais migratórios — usam o olfato para se guiar até sua localização final", disse Derbyshire.