Vivendo no escuro: os animais das cavernas


Desde a Pré-história as cavernas (ou grutas) já são conhecidas pelos homens, seja como abrigo ou por motivos religiosos (o que acontece até hoje). Mas, o que atualmente vem despertado mais interesse para nós são os organismos que lá vivem, desde seres que utilizam esses ambientes como abrigo até outros que são exclusivos deles.

Os animais mais conhecidos encontrados nas cavernas são os morcegos, os quais ficam abrigados lá dentro até o anoitecer, para depois saírem e se alimentar. Esses animais são chamados de troglóxenos, que vivem parte do dia no ambiente externo e parte no subterrâneo, principalmente para se abrigar. 

Não apenas os morcegos são considerados troglóxenos, Mócos (Kerodon rupestris), Andorinhões (Apodidae) e até invertebrados possuem tal hábito.

Morcegos, os troglóxenos mais conhecidos em cavernas.
Outro grupo de animais que freqüentam as cavernas refere-se àqueles que vivem tanto dentro quanto fora, que são os troglófilos (em tradução livre: aqueles que tem afinidade por cavernas). Esses seres, que compõe a grande parte da fauna no ambiente, vivem sem problema nenhum dentro das cavidades, e para isso podem possuir algumas pré-adaptações. Como por exemplo, serem fotofóbicos (aversão a luz). Alguns grupos de aranhas (e.g. Uloboridae, Theridiidae, Pholcidae), diplópodes (e.g. Pseudonannolene, Spirobolida, Polydesmida), lacraias (e.g. Geophilomorpha, Scolopendromorpha) e insetos (e.g. Coleoptera, Diptera, Lepidoptera, Psocoptera, Orthoptera, Hemiptera) possuem espécies consideradas troglófilas. 

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Por último, há animais que podem ser restritos às cavernas, chamados de troglóbios. Tais seres possuem uma característica importante compartilhada entre si, que é a exclusividade nesse ambiente, isto é, a espécie nunca será encontrada fora das cavernas. Neste grupo, algumas modificações estão presentes, isto é, as pré-adaptações que levaram os organismos a viverem no subterrâneo foram potencializadas para a vida nesse novo ambiente, assim levando o organismo a possuir formas adeptas às cavidades, chamando-os também de troglomórficos.
As aranhas, como Enoploctenus spp., são consideradas troglófilas.
Por exemplo, tais animais tendem a perder o aparato ocelar, às vezes chegando até a anoftalmia, possuem uma redução acentuada na pigmentação (diferente de albinismo) e alongamento de apêndices (sensoriais como antenas ou locomotores como pernas). Existem também modificações fisiológicas, como a redução da taxa metabólica basal e até longevidade.

O primeiro animal troglóbio conhecido, um vertebrado, foi a salamandra Proteus anguinus, um anfíbio totalmente cego e despigmentado encontrado em águas subterrâneas nos carstes dináricos. O primeiro invertebrado foi um Coleoptera (besouro) encontrado nas cavernas da Eslovênia, Leptodirus hochenwartii, com pernas e antenas alongadas, ausência de pigmento e redução dos olhos. No Brasil exemplos é o que não faltam. Existem peixes cegos troglóbios (Stygichthys typhlops, Ancystrus cryptophthalmus, Pimelodella kronei, entre outros), Besouros (e. g. Coarazuphium pains), Baratas (e. g. Litoblatta camargoi), diplópodes (e.g. Glomeridesmus spelaeus e Pseudonannolene spelaea) e diversos outros insetos, aranhas, crustáceos e lacraias. 

Proteus anguinus, o primeiro troglóbio conhecido. Leptodirus hochenwartii, o primeiro invertebrado, e Astyanax mexicanus o lambari.
Atualmente no nosso país, a partir do decreto lei n° 6.640, todas as cavernas brasileiras podem ser destruídas, principalmente por atividades de mineradoras. Exceção é feita para cavidades que possuem animais raros (como os troglóbios) que são categorizadas como de relevância máxima para preservação (outros critérios, como os geológicos, também possuem força na categorização). Portanto, a presença de animais nesses ambientes excede a curiosidade e admiração. De fato, os peixes, besouros, aranhas e muitos outros podem ajudar, e muito, a conservação das cavernas!

Este post foi escrito por Luiz Felipe Moretti - Veja outros posts de Felipe.

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