A incrível aerodinâmica do vôo de mergulho do falcão peregrino

O falcão peregrino (Falco peregrinus) é a espécie mais rápida dentre todas as espécies de aves do planeta!

Voando na horizontal esta ave pode ultrapassar os 150 km/h, e, muitas vezes quando persegue espécies de aves-presas, podem alcançar os incríveis 320 km/h!

Esta espécie possui um conjunto de diversas características aerodinâmicas que possibilita o alcance de altas velocidades em diversos tipos de voos.

Foi justamente essas adaptações aerodinâmicas que os cientistas Benjamin Ponitz, Anke Schmitz, Dominik Fischer, Horst Bleckmann e Christoph Brücker estudaram e posteriormente publicaram na revista Plos One, num artigo com o título "Diving-Flight Aerodynamics of a Peregrine Falcon (Falco peregrinus)" no dia 05 de feveiro de 2014.

COLETANDO OS INDIVÍDUOS
Para realizar a pesquisa com base nos experimentos de voo, os cientistas coletaram 2 indivíduos adultos (um macho e uma fêmea) de uma organização legal que realiza a prática de falcoaria (Greifvogelstation & Wildfreigehege Hellenthal GbR). Após treinados e preparados para o teste, os falcões foram levados para o local do experimento.

ORGANIZANDO O EXPERIMENTO
Para a realização do experimento, foram utilizados 3 elementos básicos: os falcões peregrinos, duas câmeras, e, a presa.

Os falcões foram posicionados em uma barragem que possui 60 metros de altura. Logo abaixo, rente ao solo, uma determinada presa foi posicionada, e, as duas câmeras enquadraram o ângulo de descida das aves até a presa, uma de cada lado da margem, como mostra a figura abaixo:

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As duas câmeras utilizadas são profissionais, especialmente projetadas para registros de imagens em alta velocidade, associadas a um medidor de velocidade e sincronizadas. Deste modo, o experimento ficou assim:


Como era de se esperar, após este experimento incrível, os autores geraram várias imagens com os padrões notáveis da estrutura e aerodinâmica da ave e também as suas inter-relações em cada "momento" da descida, onde foi possível observar uma série de manobras específicas da ave em um curto período de tempo, para capturar a presa o mais rápido possível sem sair da trajetória reta. Observe as imagens abaixo:

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De acordo com as observações em vídeo e os experimentos também realizados em laboratório, foi possível observar exatamente os principais pontos de ganho de velocidade, bem como os momentos onde a velocidade chegou ao seu ápice, e também os momentos onde a velocidade foi menor. As diferenças na velocidade dos indivíduos amostrados é observada nestes gráficos abaixo.

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Note que na faixa dos 25 primeiros metros de descida, ou seja, do ponto 60 até 35 metros de altura no eixo vertical do gráfico, é possível observar que a espécie alcança a velocidade "laranja" ou seja, ela rapidamente alcançou os 20 metros por segundo.

Ao longo da descida, dos 25 metros até os 35 restantes, aproximando-se dos 5 metros, a ave alcança a maior velocidade, representada, pela linha vermelha no gráfico, o que indica 22 metros por segundo. Porém, antes mesmo de se aproximar da presa, cerca de 10 metros antes, ela realiza manobras que reduzem rapidamente a sua velocidade. Em seguida, já bem próxima do solo, ela captura a presa.

Observe que a linha fica "azul" somente quando a ave pousou e capturou a presa, o que indica na legenda do gráfico o valor de 0 metros por segundo. Porém, ao iniciar o voo, a ave já o faz com velocidade entorno dos 13 metros por segundo, como mostra a cor verde no começo da descida da ave. Este fato revela, que a propulsão para iniciar o voo é rápida o suficiente, possibilitando que a ave saia do chão com certa velocidade favorável à sua descida e consequente aumento rápido de velocidade.


Ao final do experimento, os pesquisadores observaram que a velocidade máxima obtida pelo falcão peregrino foi de 22,5 metros por segundo. Devido à baixa altura da barragem, os falcões puderam atingir somente 80 km/h, e as suas asas não estavam completamente rente aos seus corpos, diferentemente do que é observado em ambientais naturais e em velocidades muito maiores. Deste modo, se fazem necessários outros estudos para analisar exatamente o conjunto de fatores que influenciam na aerodinâmica e desenvolvimento do voo do falcão peregrino.

Os pesquisadores concluíram que a forma típica apresentada pela ave no momento de altas velocidades é o padrão em "V" e que algumas outras estruturas associadas na aerodinâmica do voo são fundamentais no ganho de velocidade, o que não pôde ser observado claramente neste experimento.