Conhecendo os piolhos-de-cobra

(Macho e fêmea de Spirobolida sp. se entrelaçando em cópula. Foto: R.L. Ferreira)
Piolhos de cobra, gongolos e embuás, provavelmente você já deve ter ouvido esses nomes alguma vez na vida. Há algumas pessoas que até chamam de lacraias. Mas não, não são lacraias. Esses animais, que são facilmente encontrados nos nossos jardins andando bem lentamente, podem parecer quietos e calmos, mas guardam consigo interessantíssimas curiosidades! 

O grupo pertence a uma classe (“categoria”) chamada de Diplopoda, próxima dos insetos, crustáceos e das verdadeiras lacraias. Ainda não se sabe quando surgiram, mas alguns fósseis são datados de 430 milhões de anos atrás (veja Arthopleura, Zosterogrammida, Pleurojulida), é certo que as primeiras espécies apareceram no período chamado de Siluriano, quando a terra ainda era dividida em três grandes continentes. 

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São conhecidos por serem os animais que possuem a maior quantidade de pernas (Illacme plenipes), podendo chegar a incríveis 750! Embora alguns possuam “apenas” 22 pernas (Polyxenida). Podem viver em qualquer lugar, desde que seja úmido e que não tenha muito Sol. Geralmente são encontrados em cavernas, lugares permanentemente sem luz, sendo em alguns casos chamados de troglóbios (animais que vivem exclusivamente em cavernas). 

Seu corpo é divido em inúmeros segmentos, sendo quase todos eles com 2 pares de pernas. Tal característica é exclusiva desse grupo. Na verdade, o que seria um anel corporal, de fato são dois anéis fundidos! Algo como se fosse um “diplosegmento”. 

A grande maioria deles é detritívora, comem qualquer sedimento orgânico encontrado. Algo essencial para a ciclagem de nutrientes no solo. Não apenas as minhocas produzem húmus, os piolhos de cobra também! 
(Geralmente são encontrados em cavernas, como indivíduos de Pseudonannolene sp. Chelodesmidae e Spirobolida.
Foto: R. L. Ferreira).
Alguns são pragas de cultivos, como em batatinhas e melões. Também podem ser pragas urbanas, com grandes populações. Eles podem ser tóxicos, pouco, mas podem ser. Alguns, e para nosso azar os que são mais comuns de serem encontrados, produzem substâncias (benzoquinonas) que geram reações inflamatórias na nossa pele. Mas não se preocupe, eles não lançam nada na gente. O liquido, quando liberado, fica ali mesmo extravasado ao longo de seu corpo. 

Algumas espécies são pretas, marrons e pouco coloridas. Mas existem também algumas azuis, amarelas, vermelhas e até rosas! (Rachodesmidae, Xystodesmidae, Chelodesmidae e outras). Existem até espécies aposemáticas (coloração chamativa associada à toxicidade). Uma inclusive possui bioluminescência (Motyxia). 
(Quando imaturos, se enrolando dentro de um abrigo feito pela mãe. Polydesmida. Foto: R. L. Ferreira).
Eles quando se sentem afugentados, geralmente quando pegamos em nossas mãos, podem se enrolar. Certos piolhos de cobra são capazes até mesmo de se enrolarem como uma bola (Sphaerotheriida e Glomerida), como se fossem tatu de jardim (que são crustáceos). Pouco se sabe ainda deste grupo. Estima-se que existam cerca de 80 mil espécies viventes, embora se conheçam menos de 10 mil. Grandes centros de estudos nos EUA e na Europa, principalmente os taxonômicos (identificação e descrição), vem trabalhando para entender mais sobre esses dóceis e curiosos invertebrados. No Brasil o conhecimento é mais escasso, os estudos estão a passos lentos, mas estamos caminhando. Em 2012, foi descoberta a primeira espécie (no caso, uma estritamente cavernícola) de um antigo grupo nunca visto no país (Glomeridesmus). E com certeza, outras mais serão conhecidas.

Este artigo foi escrito por Luiz Felipe acadêmico de Biologia e leitor do EQB.

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